Projeto Pernambembe leva arte engajada para becos e favelas de Pernambuco
13 de novembro de 2024Biografia Beto Coisa
2 de dezembro de 2024Grupo Batuque, os mensageiros da exclusão
A proposta é trabalhar elementos tradicionais da cultura de produção popular possibilitando-lhes uma leitura urbana, periférica e de vanguarda, sem, necessariamente, recorrer a estilos da música mundial de mercado
O grupo Batuque nasceu em Olinda/PE em 1997 e traz uma proposta artística que trabalha elementos da cultura tradicional e popular, a partir de uma leitura contemporânea, urbana e periférica. E, embora compromissado com elementos estético, sonoro, poético e plástico associados a elementos que traduzem a produção popular e tradicional da cultura pernambucana, não deixa de ser universal. Na composição, os elementos resultantes da produção artística popular estão combinados à expressão poética, estética, sonora e social do cotidiano, caracterizados pela superposição de linguagens, tendo como base a música percussiva entremeada por versos e pregões.
A proposta é trabalhar elementos tradicionais da cultura de produção popular possibilitando-lhes uma leitura urbana, periférica e de vanguarda, sem, necessariamente, recorrer a estilos da música mundial de mercado. Acreditando que a essência da universalidade está nas primitivas necessidades e relações humanas.
Proposta do Batuque
Sua proposta ratifica o papel social da arte e a transporta para o plano conceitual e ideológico do comportamento humano. A cultura de produção popular é traduzida como expressão local de necessidades e carências que são universais e humanas, seja no Sertão do Araripe… Moçambique ou em Peixinhos. Parte da dimensão social do trabalho do grupo decorre da base e íntima relação com Peixinhos, bairro da periferia do Grande Recife. Lugar onde viver, para a maioria dos moradores, é um convite ao desafio à sobrevivência. Palco de batalhas pela garantia da vida a cada dia. Localidade que tem o ritmo e o som dessa sobrevivência, ambiente frenético onde a motivação maior é sobreviver. Na pegada urbana, o Batuque guarda estreita relação com a vida cotidiana dos grandes centros urbanos, observa a velocidade, a inquietação, o amálgama de cores, pessoas e informações em permanente construção.
Plástica
A plástica do Batuque é parte fundamental de sua proposta. Ela, em composição com as demais dimensões artísticas trabalhadas, permite a leitura visual dessa proposta. Informa, simultaneamente, aspectos sociais, urbanos, lúdicos e culturais que integram a proposta do grupo. Complementa e permite mais vivacidade aos movimentos, às expressões, às imagens, às palavras e aos textos por ele trabalhados. As máscaras utilizadas integram a dimensão plástica do seu trabalho. Em tons terrosos e traços simples, elas simbolizam a primitiva relação, ou a simbiose, entre as máscaras que figuram no universo das expressões da cultura de produção popular, que se associam às ancestralidades, e as máscaras sociais vividas pelos brincadores dessas expressões.
O Batuque, antes de tudo, configura-se como um trabalho artístico (não apenas musical) experimental. Experimental na forma/conteúdo. Esse experimentalismo, por um lado, ocorre nas possibilidades de conexões e reconexões entre diferentes modalidades da arte (música, artes visuais, dança, literatura, teatro) em uma composição (instalação) viva e vibrante que se molda a cada espetáculo. Por outro lado, o experimentalismo figura na utilização de recursos da cultura de produção popular e tradicional (sobretudo aqueles encontrados em Pernambuco), os quais já decorrem de hibridações transnacionais ocorridas em seus processos históricos, em diálogo com a dinâmica universal da vida urbana moderna, ou pós-moderna (velocidade, inquietação, intercambiabilidade…Fragmentos e hierarquizações sociais).
Além desses experimentos, que visam uma arte contemporânea e universal sem necessariamente recorrer a instrumentos musicais ou outros insumos tidos como modernos, ainda, buscando o cosmopolitismo, o Batuque faz uso de um conteúdo que dialoga com necessidades primitivas dos seres humanos, necessidades essas que na condição de permanentes e indispensáveis à existência da vida, em última análise, compõem a essência da universalidade humana. Ou seja, a proposta do Batuque é trabalhar uma arte cuja forma/conteúdo seja moderna, urbana e cosmopolita fazendo uso, quase unicamente, de recursos populares e tradicionais forjados historicamente no ambiente sociocultural Pernambucano.
Os trabalhos e as produções alternativas que o Grupo tem desenvolvido ao longo de sua existência demonstram, por demais, o seu compromisso com a arte, com o povo e com a cultura brasileira. O amadurecimento do Batuque vem de suas principais ações, seja como convidado de eventos culturais seja como produtor e condutor de parte de suas atuações. O grupo realizou inúmeros espetáculos em diversas localidades, seja em grandes festividades populares, seja integrando valiosos projetos culturais, além de inumeráveis palcos alternativos.
Projeto Pernambembe
Dentre as suas próprias produções, além de eventos que ganharam grande visibilidade no cenário cultural pernambucano, o maior destaque é o Pernambembe, projeto itinerante (mambembe) que foi a base catalisadora de inspiração e pesquisa do Batuque e que está baseado no conceito de que todos são potencialmente “consumidores”, incentivadores e produtores de Cultura. Nele, a ideia é atuar no cotidiano das pessoas, chegar aos locais (favelas, feiras, comunidades etc.) onde elas costumam conversar, trabalhar, estudar, comprar, vender, trocar… Mais do que exibir, o que se pretende é entender, estimular, registrar e assimilar a criatividade, o comportamento, a estética e as necessidades do cotidiano do povo.
Discos e Espetáculos do Batuque
No universo da produção musical (discografia), o grupo participou da primeira edição da coletânea Pernambuco em Concerto (1999) e, de forma independente, produziu os discos Homem de Ferro (2004) e Fundição (2009). O grupo figurou intensamente no cenário cultural, com forte presença em Pernambuco, no final dos anos 1990 e na década de 2000.
Disco Homem de Ferro
O disco Homem de Ferro, lançado em maio de 2004, traduz expressiva e originalmente o que o grupo tem levado para o público. É um trabalho que ratifica o inesgotável poder criativo e a riquíssima diversidade da cultura pernambucana. São 12 faixas, dez de autoria dos integrantes do grupo e duas adaptações de trabalhos de poetas pernambucanos (Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, e Vadiagem, de Graça Graúna). A musicalidade apresentada nesse trabalho incorpora diversos elementos rítmicos, sonoros e poéticos da cultura de produção popular pernambucana, entendendo essa cultura não apenas como o resultado da criação artística do povo, mas também como o resultado do cotidiano desse povo. A proposta literária narra de forma engajada a realidade social e cultural desse ambiente, fazendo um passeio por esse mundo e pelo imaginário coletivo.
Ouça o Disco Homem de Ferro
Disco Fundição
O disco Fundição, produzido em 2009, ratifica a construção de uma estética sonora, poética e plástica de tradução urbana intimamente relacionada com o processo de construção da cultura de convívio do grupo e intensifica a busca por uma composição comprometida com o papel social da arte, tendo como principais interlocutores as comunidades populares dos grandes centros urbanos, sobretudo da região metropolitana do Recife. Esse trabalho traz 11 faixas, todas de autoria própria, cuja musicalidade são extratos de ocorrências sonoras relacionadas com as etnias que compõem o povo e a cultura brasileira, identificadas, sobretudo, nas comunidades da periferia dos centros urbanos. Apresenta uma proposta literária comprometida com as evidências que caracterizam o ambiente social brasileiro e mundial de exploração e de exclusão, e com fatos históricos e contemporâneos fomentadores desse ambiente.
Ouça o Disco Fundição
Espetáculos Homem de Ferro e Fundição
Os Espetáculos Homem de Ferro e Fundição, como tem sido a proposta do grupo, representam uma tradução dos elementos artísticos apresentados nos respectivos trabalhos fonográficos (Homem de Ferro e Fundição), através da sobreposição da manifestação teatral, poética, plástica e musical conduzida pelos seus seis integrantes que se revezam incorporando elementos de cada uma dessas linguagens. Peça composta por atos e cenas marcada por cores, sons e movimentos impregnados de sentimentos que trazem uma leitura do encontro indissociável entre a rica e diversa cultura manifestada, sobretudo, nas comunidades populares da região metropolitana do Grande Recife e a difícil realidade social vivenciada por esses grupos.
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